segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"But what it is though old so new" *


Nenhuma arte nos acompanha tão de perto a ponto de (con)fundir-se com nossa vida quanto a música. Por essa razão, nenhuma registra tão bem a passagem do tempo, não apenas lato sensu, mas o nosso tempo, o tempo de cada um.

A música nos confere uma identidade, quase um RG musical. Claro que a idade cronológica não é o único fator a nos aproximar de um artista ou estilo, porém os estilos e seus artistas falam mais diretamente de sua época, alimentados pelas gerações a partir das quais produzem sua arte e angariam fãs. Não me refiro aqui ao legado musical às gerações seguintes - esgotada a produção, ou finados seus criadores (pois, nesse sentido, a música é atemporal), mas ao período produtivo de um artista, desde o seu surgimento para o grande público até a última canção executada ou composta.

Por outro lado, se existe na vida uma “idade de se apaixonar”, deve ser a mesma com que nos apaixonamos por determinado estilo/artista. E se existe mesmo uma tal “juventude de espírito”, deve se caracterizar (entre outros aspectos) pela capacidade de se apaixonar por um novo estilo/artista a qualquer tempo. Não é só quanto aos relacionamentos afetivos que nos tornamos refratários com o passar dos anos.

Sob essa perspectiva, antes de afirmar “a música de agora é um horror”, “boa era a música do meu tempo”, é aconselhável rever os próprios conceitos, relativizar. Porque as transformações da humanidade se refletem na arte, e não permitiriam que a música parasse no tempo, embora seja difícil para a maioria acompanhar e apreciar todas as suas mudanças.

Tenho uma certa prevenção contra o pop estrangeiro surgido há menos de quinze anos, por exemplo. E quando uma banda ou artista é comparado a outro “do meu tempo”, sou capaz de encontrar vários “defeitos” no mais novo. Para minha mãe, em geral música dançante pós-1970 é “bate-estaca” (não gosta do “tum-tum, tum-tum” que seu ouvido capta). Já minha avó materna, nascida em 1907, gostava de Raul Seixas.

Tudo isso é pra falar da alegria que sinto ao descobrir um artista novo fora da “minha geração” (foi assim com Alanis Morrisette, há pouco mais de uma década). E declarar meu amor - antigo e eterno - por Stevie Wonder.

* da letra de I just called to say I love you

2 comentários:

  1. Tenho TODOS os discos e cds dele. É o maior! Compositor,músico e cantor. Ele cantando a "Ave Maria" e solando c a gaita depois,é divino! Bjs da Regina Paranhos

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  2. O que mais me impressiona no SW é que ele não perdeu os agudos como outros cantores da mesma idade.
    Obrigada pela visita, Regina (minha cronista de humor predileta!). Bjs

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