Pai botafoguense, mãe flamenguista, eu precisava escolher um time. Era mesmo necessário? Claro, todo mundo tinha de ter um, garantiram meus irmãos. Dois deles alvinegros, um rubro-negro... Pensei uns dias e tomei a decisão, zelando pelo equilíbrio familiar, suponho.
Meu irmão mais velho não admitia que alguém neste mundo, ou pelo menos naquela casa, torcesse para outro time que não fosse o Botafogo. Desde pequeno, ele também adorava uma doutrinação. Então reuniu suas duas características mais marcantes no maior fanatismo futebolístico já visto em uma criança.
Durante toda a nossa infância, a música mais ouvida lá em casa foi o hino do Botafogo. Não tinha pra Chico Buarque, pra Roberto Carlos, não tinha pra ninguém. E não só em dia de jogo, mas todo santo dia, e muitas, muitas vezes. “Botafogo, Botafogo...”.
Aquelas notas insidiosas trabalhavam na minha cabeça com o poder de uma profunda lavagem cerebral. Foi um milagre eu não ter virado casaca, prova de que “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”... Mas o inevitável aconteceu: aprendi o hino do Botafogo como quem aprende tabuada. Ou seja: para sempre.
Flamenguista que sabe de cor o hino do Botafogo?! Uma aberração, também acho. Deve ter sido pra resolver essas questões “psico-esportivo-existenciais” que inventaram o “segundo time”. O meu, por motivos óbvios, acabou sendo o da estrela solitária.