sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mas não parece!


Há quase vinte anos, ganhei de amigo oculto um disco de Marina Lima (foto) que trazia em seu encarte: Às vezes quando eu digo [a idade] alguém rapidamente responde: ‘mas não parece’, como se fosse ruim ter mais de 30 anos. Mas para mim (...) a infância, a adolescência, os 20 anos, eu os vivi até o fim para chegar a esta idade. Eu tenho 35 anos em 1991 e não há nada melhor do que isto”.


Aos 80 anos, minha mãe diz que ainda não viu nada e faz planos a longo prazo. Pois é cada vez maior o número de conhecidos ilustres - e ilustres desconhecidos - ultrapassando os cem. E, se a expectativa de vida aumentou, também houve mudança em todas as faixas etárias. A adolescência deu uma esticada até os 30, e a meia-idade... rejuvenesceu.

Hoje, dizem, os 50 anos são como os 40 de décadas atrás. Porém, como nem sempre as crenças acompanham os fatos, antigos conceitos ainda são invocados. Exemplo recente aconteceu no carnaval: elogios rasgados à beleza perene de Luiza Brunet, “aos 47 anos!”. Claro que Luiza continua linda, mas falaram de sua idade como se fosse Matusalém na avenida.

Embora reconheça o quanto alguns podem ser agraciados pela genética ou recompensados por hábitos saudáveis, em geral acho que a pessoa aparenta a idade que tem. E a diferença, para mais ou para menos, não costuma passar de cinco anos.

Não parece” me faz pensar no quanto os paradigmas ficaram defasados em relação ao processo de ampliação da longevidade e da própria juventude. Também me remete ao filme de Domingos Oliveira, no qual um personagem afirma que há três “idades”: infância, juventude e “você tá ótimo!”.

Para não alimentar ilusões, seria útil guardar as palavras da nonagenária escritora Benoîte Groult em Um toque na estrela (sucesso por aqui ano passado). No mais delicioso romance sobre este tema tão evitado, um alerta: "somos velhos aos olhos dos outros antes de sê-lo aos nossos próprios olhos".

Ilustrando a frase de Groult, a mãe de um amigo, então com oitenta e poucos anos, perguntou a ele certo dia: "Meu filho, o que será de mim quando eu ficar velha?".
Meu amigo respondeu: “Ih, mãe, deixa pra lá. Não pensa nisso agora, não!”.

3 comentários:

  1. hehehe, adorei sobre as 3 fases:"...infância, juventude e “você tá ótimo!”."

    A coluna da Martha Medeiros dessa semana também fala um pouco disso.

    Vivemos essa transição dos parâmetros de idade. Acho que as crianças de hoje não irão viver isso, com tanto avanço na área da estética e do "bem-viver". Acho que as fases no futuro delas serào: infância, juventude e juventude prolongada...rs

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  2. Também li a crônica, Didi (ótima, como sempre).
    Gostei da "juventude prolongada" (rs).

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  3. Já percebi que este blog me cativou...adoro seus escritos!!!!
    Quanto ao tema do dia, eu acho que ainda estou meiona dúvida se prolongo minha juventude ou começo a me sentir ótima, hehe

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