terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cinéfilos


Quem disse que cinéfilo é “tudo igual”? Durante duas semanas, encontrei tipos bem distintos no Festival do Rio:
  • Hiperativo – compra o passaporte de 50 ingressos, mas raramente fica até o final de um filme: sai antes de trinta minutos, e passa para outro;
  • Metódico - faz planilha dos filmes no computador (dia, hora, sala, diretor...);
  • Estiloso – usa sempre uma roupa/acessório que não usaria em nenhuma outra ocasião;
  • Radical – capaz de fincar pé em uma sala de cinema onde o filme apresentou problemas na hora da exibição, e não sair mesmo com a proposta de devolução do dinheiro ou exibição em outro dia/horário;
  • Obsessivo - é sempre o primeiro da fila, pois precisa sentar “na poltrona 6 da fila K”;
  • Folgado – pede para quem está na poltrona da frente (de altura apenas mediana) “abaixar um pouquinho a cabeça” para que ele possa “ler a legenda” (afundado na poltrona); e ai de quem disser que não pode, alegando problemas na coluna etc.;
  • Competitivo – ninguém é mais apaixonado por cinema do que ele; portanto, se você disser que viu “trinta filmes”, ele sempre terá visto ”trinta e cinco”;
  • Atlético – começa o dia na Mostra Geração do SESC Rio; vai para o Kinoplex Tijuca (onde almoça um saco de pipoca); segue “apertado” para o SESC Ipanema (e corre pro banheiro antes do fim da sessão); ruma para o Odeon (mais pipoca, e água para não engasgar); pega o último metrô para a sessão da meia-noite no SESC Botafogo (onde toma um café expresso, pois não é de ferro);
  • Recalcado – não conseguiu os ingressos ou não pode assistir a muitos filmes (dor no ciático, sono, falta de tempo ou grana etc.), então desdenha o grande número de filmes que o outro assistiu: “ah, eu priorizo os filmes que não vão entrar no circuito” ou “eu, hein, você é louco”;
  • Maluco – qualquer um que compre o passaporte de 50 (reveja a definição anterior).

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Eu fui - parte II


Dia 29 embarquei no ônibus especial Santos Dummont-Cidade do Rock, via Linha Amarela. Sem filas, sentada.

Cheguei por volta das 17h. Vi um show (sem saber de quem) na Rock Street, Joss Stone no Palco Sunset, comi um sanduíche caseiro e ainda consegui comprar pipoca Funny Pop e Coca Cola, quase sem enfrentar fila. Um fim de tarde perfeito. Depois fui para o Palco Mundo prestar meu tributo à Legião Urbana.


Ouvir o Bonfá cantando “Teatro dos vampiros” me fez chorar. A voz do Bonfá + Dado + OSB me comoveram mais que o coro de artistas e plateia em “Pais e filhos”. Achei esse final piegas, dispensável.

Assisti a Janelle Monáe (gostei!), fui ao banheiro durante a Ke$ha, curti o Jamiroquai embora tenha achado o repertório do show meio repetitivo, e voltei ao meu camarote vip no gramado artificial. Dali só levantei quando começou o show mais esperado da noite.

Não reconheci as primeiras músicas. Mas Stevie é rei, por mim pode cantar até gugu-dadá que vou achar lindo. Nem todos pensam assim... O fato é que houve uma debandada após alguns minutos de show. Quem estava lá na frente não percebeu, e talvez não se note pela TV, mas o povo da retaguarda registrou. Não pude deixar de pensar: ainda bem que ele não está vendo. Só uma coisa a dizer para quem saiu cedo: que se rasgue arrependido vendo pedaços do show no YouTube e nas reprises do Multishow!

Vieram Garota de Ipanema e Você abusou. Depois, com uma voz tão bonita e redonda quanto no início da carreira, Stevie cantou parte da trilha sonora da minha vida (literalmente, porque Stevie começou a fazer sucesso quando eu tinha um ano de idade...). Fiquei até o fim, e cheguei em casa às 4:30h. da manhã.

Esse relato poderia terminar aqui, porém ainda preciso falar do meu 3º dia de RiR. Minha escolha foi meio circunstancial, já disse. Gosto do Coldplay, mas confesso não saber os nomes de mais do que três músicas da banda; as letras, então, não sei mesmo, só um refrão (aquele...) e olhe lá! Sempre fui assim, suponho que seja típico da "minha geração": durante o show do Elton e do Stevie Wonder, quase ninguém canta como a galera mais nova (quem algum dia soube a letra, a essa altura já esqueceu, e quem parece que está cantando, hummm, pode desconfiar).

Bem, no meu último dia de RiR 2011 (ainda pretendo ir a outros, percebeu?), cheguei na Cidade do Rock no final do Jorge Drexler (por quem tenho muita simpatia). Gostei da parceria do Zeca Baleiro com Lokua Kanza. Perdi quase todo o show do Frejat, porque o show do Erasmo e do Arnaldo Antunes no Palco Sunset atrasou. Estava tão bom aquele som dos dois no pôr de sol que, quando acabou, fiquei de bobeira por ali, sentada perto das lanchonetes. Do Sunset não dava pra ouvir o som do Palco Mundo (milagre da engenharia), e só me toquei quando vi o grande movimento de pessoas em torno do palco principal.

Segui para o Mundo, assisti aos últimos acordes do Frejat. Veio o Skank, e comecei a me sentir deslocada, como se tivesse entrado na festa errada. Era cedo, os ônibus especiais só sairiam a partir das 22h. Então fiquei fazendo hora na Rock Street e depois...

Sim, peguei o primeiro ônibus que saiu do RiR com destino ao Santos Dummont e fui... ver o Coldplay no conforto do meu lar. :)

Eu fui - parte I


Final de 2010. Anunciada a pré-venda para o Rock in Rio 2011, comprei dois ingressos sem saber ainda quais seriam as atrações.

Quando divulgaram a programação, fiz muxoxo ao saber que da "minha geração" só viria Elton John (eu já o tinha visto na Apoteose em 2009, mas li que haveria uma homenagem ao Fred Mercury no mesmo dia do Elton, e me decidi). Como precisava optar por mais um dia de show, fiquei na dúvida entre o último e o penúltimo, e acabei escolhendo o do Coldplay, de quem conheço algumas músicas e gosto.

No meio do ano anunciaram um show extra com Stevie Wonder no RiR, e comprei o ingresso pela internet toda animada. A essa altura, eu já sabia que ninguém da minha família iria a qualquer show. Pensei que teria a companhia de algum amigo, mas essa esperança também caiu por terra quando comecei a dizer que iria. “Você vai?!” (misto de surpresa e acusação). “Três dias?!” (tradução: "pirou?”). Nenhum amigo iria ao RiR, apenas os filhos. Minhas companhias seriam a Cara e a Coragem.

Perdi o 1º lote de bilhetes dos ônibus “Primeira Classe”, as tais linhas especiais que fariam o trajeto entre diversos pontos do Rio e o estacionamento mais próximo da Cidade do Rock, ida e volta. Depois foi oferecido um novo lote, mas não consegui comprar para o dia de estreia, apenas para os shows seguintes.

No dia do Elton (o 1º do evento), saí de casa às 15:30h e cheguei na Cidade do Rock às 20:40h (isso mesmo: cinco horas pra chegar). Como eu e trocentas pessoas tivemos a mesma ideia (ir de metrô até Ipanema e lá pegar o integração até o Alvorada), encarei uma hora de fila na General Osório. Então viajei três horas em pé no integração, mais uns 20 minutos no circular Rock in Rio, e terminei com uma caminhada light (light mesmo, acredite) de 1,5 km.

Cheguei durante o show da Claudia Leitte (sem comentários), depois de ter perdido a homenagem ao Fred Mercury (disseram que foi ruim, e isso me serviu de consolo). Faminta, fui direto comprar um lanche, e me deparei com filas imensas no Bob's (era proibido entrar com comida e bebida). Ali mesmo resolvi que levaria comida nos bolsos para os shows seguintes, mas antes disso o Ministério Público derrubaria a restrição do RiR, para alegria geral.

Passei uma hora na fila pra devorar trêmula um sanduíche de atum (com Coca Cola...), sentada no gramado artificial. Depois assisti ao show da Katy Perry (de quem nunca tinha ouvido falar, embora conhecesse uma música sem saber que era dela). Não gostei muito. Hora de ir ao banheiro. Mais tempo em fila, né? Pasme: não havia fila. Se algo funcionou no RiR 2011 foram os banheiros, sem filas e razoavelmente limpos considerando a quantidade de pessoas. Admirada, cheguei a enviar uma foto para minha irmã pelo celular.

Enquanto aguardava o show do Elton John, descobri o gramado artificial na entrada da Cidade do Rock, de frente para o Palco Mundo, ainda que a milhas de distância (nada que um telão não pudesse resolver). Com sua pequena elevação, era um ótimo lugar pra descansar as pernas sem acabar com a coluna, e também um camarote alternativo para o pessoal de meia-idade (brincadeira: vi gente novíssima por lá).

Finalmente veio EJ com o repertório da minha adolescência (o mesmo que meu primo Dudu acha brega, mas faz tão bem aos meus ouvidos). Terminado o show do Elton John (1:30h), fui embora (não sabia se Rihana era loura ou morena, e não me interessei em saber). De novo a caminhada até o terminal do ônibus circular Rock in Rio, dali para o Alvorada, e do Alvorada até a Praia do Flamengo, onde desci às 3 h. e dei uma corridinha até em casa, sem viva alma pelo caminho. Tempo total do RiR até a porta de casa: uma hora e meia - bem melhor que a ida, não?

Cheguei sã e salva, com todos os meus pertences, e ainda fiz um exercício... Yeeeaah!


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"But what it is though old so new" *


Nenhuma arte nos acompanha tão de perto a ponto de (con)fundir-se com nossa vida quanto a música. Por essa razão, nenhuma registra tão bem a passagem do tempo, não apenas lato sensu, mas o nosso tempo, o tempo de cada um.

A música nos confere uma identidade, quase um RG musical. Claro que a idade cronológica não é o único fator a nos aproximar de um artista ou estilo, porém os estilos e seus artistas falam mais diretamente de sua época, alimentados pelas gerações a partir das quais produzem sua arte e angariam fãs. Não me refiro aqui ao legado musical às gerações seguintes - esgotada a produção, ou finados seus criadores (pois, nesse sentido, a música é atemporal), mas ao período produtivo de um artista, desde o seu surgimento para o grande público até a última canção executada ou composta.

Por outro lado, se existe na vida uma “idade de se apaixonar”, deve ser a mesma com que nos apaixonamos por determinado estilo/artista. E se existe mesmo uma tal “juventude de espírito”, deve se caracterizar (entre outros aspectos) pela capacidade de se apaixonar por um novo estilo/artista a qualquer tempo. Não é só quanto aos relacionamentos afetivos que nos tornamos refratários com o passar dos anos.

Sob essa perspectiva, antes de afirmar “a música de agora é um horror”, “boa era a música do meu tempo”, é aconselhável rever os próprios conceitos, relativizar. Porque as transformações da humanidade se refletem na arte, e não permitiriam que a música parasse no tempo, embora seja difícil para a maioria acompanhar e apreciar todas as suas mudanças.

Tenho uma certa prevenção contra o pop estrangeiro surgido há menos de quinze anos, por exemplo. E quando uma banda ou artista é comparado a outro “do meu tempo”, sou capaz de encontrar vários “defeitos” no mais novo. Para minha mãe, em geral música dançante pós-1970 é “bate-estaca” (não gosta do “tum-tum, tum-tum” que seu ouvido capta). Já minha avó materna, nascida em 1907, gostava de Raul Seixas.

Tudo isso é pra falar da alegria que sinto ao descobrir um artista novo fora da “minha geração” (foi assim com Alanis Morrisette, há pouco mais de uma década). E declarar meu amor - antigo e eterno - por Stevie Wonder.

* da letra de I just called to say I love you